terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

CEBI-AL: Beber das águas da Serra da Catita na Fraternidade do Discípulo Amado



Por Vilma Lins e Odja Barros

Beber das águas históricas e simbólicas da Serra da Catita e da experiência da Fraternidade do Discípulo Amado
Aconteceu nos dias 16 e 17 de fevereiro, o 1º encontro 2013 do CEBI-AL. O local escolhido para esse primeiro encontro foi bastante simbólico: uma comunidade monástica na Serra da Catita denominada Fraternidade do Discípulo Amado, localizada na cidade de Colônia Leopoldina, um recôndito no meio da do agreste alagoano. Geograficamente essa serra pertenceu ao Quilombo dos Palmares. Na Serra da Catita existe uma estrada que no passado serviu de trilha para os negros que fugiam para o Quilombo dos Palmares.
Contam os moradores da Catita o que ouviram de seus antepassados: "esta serra servia de descanso para os negros quando fugiam dos senhores do engenho e buscavam Zumbi nos Quilombos". Conta ainda a história que Dandara, uma das lideranças femininas da Comunidade palmarina, certa vez nessa região incentivou as mulheres negras a fugirem para os Quilombos dos Palmares tomando o rumo da Serra da Catita. Por isso umas das cachoeiras encontradas na serra leva o nome da Dandara, pois segundo contam, ela costumava banhar-se nas águas daquela cachoeira. É neste mesmo lugar no meio da mata que encontramos a Comunidade do Discipulado Amado, uma fraternidade/sororidade de homens e mulheres de oração que optaram pela vida monástica contemplativa.  Existiria lugar mais inspirador para o esse encontro?
A fraternidade do discípulo amado inicia o dia às 4h da manhã com o oficio das leituras. Mais cinco orações são realizadas no decorrer do dia até às 19: 30h, quando são encerradas as atividades contemplativas e de trabalho dentro do mosteiro. Mas, diferente de um mosteiro tradicional podemos encontrar ali não somente homens e mulheres de vida consagrada, mas também crianças, mulheres, moradores da região que são sempre bem vindos, participam das refeições comuns e das orações. Os monges também descem a serra para fazer visitas e celebrações nas casas dos moradores da região, se juntando ao povo em suas lutas comunitárias.

A contemplação nos envolveu de forma ecumênica

Foi na força histórica e simbólica desse lugar, na paz promovida por esse ambiente e na proposta de vida contemplativa de oração combinada com um profundo compromisso com os pobres que realizamos este encontro do CEBI. Durante o encontro fomos inspirados e inspiradas pelas meditações feitas pelo irmão João Batista no Evangelho de João. Foi escolhido o texto de João 2:1-12 das Bodas de Caná. O irmão João nos ajudou a ler e conversar com o texto e conversamos entre nós. Partilhamos a mesma paixão pela palavra e pela vida através da riqueza dos detalhes e símbolos dessa narrativa.
Durante o encontro, as oportunidades de convívio eram sempre muito bem aproveitadas. Entre conversas e brincadeiras na cachoeira, pudemos experimentar uma espiritualidade livre e comunitária. Nos momentos de oração ministrada pelos monges, a contemplação nos envolveu de forma ecumênica. Na simplicidade da mesa, nossas refeições eram nutridas pela presença comum de homens e mulheres comungando da mesma fé. Em momentos animados e reflexivos, o encontro nos proporcionou diálogo, troca de experiências e inspiração para juntos renovarmos as nossas forças para a caminhada. Para nós, toda a vivência compartilhada nos deixou um saldo de unidade e respeito. Retornamos certas de que a experiência com o divino acontece principalmente no contato comunitário, leve, livre e liberto das próprias verdades.
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Texto originalmente publicado em http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=2&noticiaId=3764.