domingo, 1 de setembro de 2013

O MISTÉRIO, O SILÊNCIO, A ORAÇÃO...

 
 
Fico a pensar sobre o mistério que envolve a vida de fé. Não há explicação lógica para as atitudes de fé, para a confiança, pois parece não haver nada tão certo, tão seguro, simplesmente nos pomos a crê. Isso é meio louco, mas é na loucura ou por meio da loucura que vislumbramos algum sentido nesse mistério. A loucura do Evangelho de Jesus.
 
O que dizer diante do mistério? Nada! No Mistério nos curvamos em reverência diante do que não conhecemos profundamente, mas entendemos no fundo tratar-se de Alguém que nos conhece profundamente, a quem chamamos insistentemente de Pai - Aba, como chamou Jesus.
 
Talvez a melhor forma de nos relacionarmos com Ele seja com um ensurdecedor silêncio para então ouvir o que temos a receber de Deus. Isso porque falamos demais com a mera ilusão de que O convenceremos com nossas evasivas palavras... Jesus em dado momento nos alerta quanto às vãs repetições... Não seriam as nossas vãs falações?! Diante d’Ele cabe mais o “nobre silêncio do que o fundo pensar e o muito dizer”, como diria o Leonardo Boff.
 
Só nos resta a oração. Esse desejo imenso de uma presença sempre possível, mas nem sempre palpável. Bem que poderia ser mais humana ou tornar-se mais humana quando traduzida em momentos de  comunhão, fraternidade e celebração da vida. Em momentos assim Deus é presente e a oração faz mais sentido. Certamente cantando, comendo, sorrindo juntos, oramos bem mais intensamente...
 
Como devemos orar? Talvez a melhor atitude na oração seja aquela de uma criança crédula, que ora para o papai do céu na sua mais pura concretude. Ela sabe que conta com a proteção que precisa para dormir e brincar. Certa vez, Rubem Alves orou assim:
 
“Eu sei que tu estás aí. Por isso posso brincar e dormir. No meu brincar e no meu dormir, esquecido de ti, estarei dizendo, sem palavras, que confio. Tu estás sempre perto. Sou eu que, às vezes, me sinto longe. Não sou eu quem diz o teu nome. És tu que dizes o meu. E ouço, no silêncio das montanhas e dos abismos dos meus cenários interiores, o meu nome ecoando pelos espaços...”.
 
Nem sempre devemos querer entender o que é o Mistério, sobretudo, porque é mistério divino. Que possamos aprender a silenciar, porque  silenciando oramos e orando  mesmo que não chamemos o nome de Deus, ele estará chamando o nosso nome. Certamente Deus nos permitirá o sono e as brincadeiras. Ele estará sempre por perto e o nosso nome ecoará em todos os espaços sendo pronunciado pelo Pai de toda a graça e misericórdia.
 
 Waldir Martins